terça-feira, 5 de abril de 2011

A Saudade que todo mundo sente


Tem esse blog que eu leio todo dia (http://www.blogmamiferas.com.br/) e o tema de hoje era a saudade... da avó.
Então para os avós de plantão, a lembrança que não é só eles (e o neto deles) que passa por isso....



Saudade »

por Kalu


Foto: Paula Lyn
Ela entra no carro, com olhos desabando lágrimas. Muitas vezes durante a semana ela chora de saudades do seu neto querido. Ele, aos prantos, molhando a manga da minha camiseta, chorava um choro desesperado. Me abraçava forte como se me pedisse para tirar a dor de seu coração.
Foram dias em que ele dormiu abraçado com a avó que mora a 700km de casa. Dias de brincadeiras, de banho de banheira, de comidinhas especiais. E assim, como um beija-flor ligeiro, já está na hora da separação.
Sei que ela entrará no avião e chorará durante todo o vôo. Depois da dolorosa despedida, abracei-o, deite no sofá e ficamos chorando a dor de quem sente saudade. Foi a primeira vez que o vi chorar assim. Acho que agora ele tem noção de tempo.
Antigamente ele não chorava nas partidas e o reencontro era como se o tempo tivesse parado, naquele instante, para uma ida ao banheiro.
Agora ele sabe que demorará algum tempo para vivenciar o amor que brota da presença com a avó. Vendo aquela cena, me lembrei da saudade que sentia da minha avó, Lalinha. Todas as vezes que eu ia embora de perto dela, ainda que na mesma cidade, eu sentia uma saudade lancinante. Esse amor inexplicável se manifestava na letra de uma canção brega que eu dizia ser a nossa. “O seu cheiro está em mim. Tudo passa e eu só sei dizer: seu nome. Tudo aquilo que senti, não há mais de se apagar…”.

2 dias de vida com a vovó
O ser humano parece nascer com saudade. Ao nascer, o recém nascido sente uma saudade aguda da falta de gravidade, da água, do balanço, do barulho do coração, da placenta. Por mais que tentemos imitar a vida uterina, a saudade às vezes os visita no meio da noite. E o calor da voz da mãe e o peito reconfortam a ausência e fazem a saudade tornar-se suportável.. Sentimos saudades do peito, do tempo em que éramos alimentados na boca. Dos amigos que se perdem pela teia da vida. Dos brinquedos, das músicas, da rotina, da inocência, das brincadeiras de rua.
Dizem que não temos memória até nossos três anos porque se lembrássemos seria impossível viver tamanha felicidade que vivemos. A lembrança despertaria uma saudade desesperadora. Sou uma pessoa cheia de lembranças, repleta de saudades. Sinto falta da minha infância, na rua Paracatu, em São Paulo. Da minha bisavó e seus sabonetes senador; da feira da porta da minha casa. Eu sinto tantas saudades de estar grávida e um sentimento ainda maior de parir. Uma saudade de cheiro do meu menino recém nascido.
A saudade revela um elemento fundamental: significa que o que vivemos nos marcou tão profundamente que queremos prolongar infinitamente essa sensação. Desejo impossível como viver eternamente. Então nos restam fragmentos de lembranças, que ganham cores desbotadas e super coloridas a medida que o tempo passa.
A saudade nos persegue em lembranças, objetos, canções, cheiros. A saudade revela o grau de envolvimento que tivemos com a vida. Às vezes eu sinto saudade sem explicação. Acho que é uma saudade antes de minha concepção. Talvez saudade de Deus.
Não dá para explicar a saudade. Dá para compartilhar da tristeza que ela revela. Chorar junto, abraçados, encolhidos até que o coração se acalme. Para depois sair correndo, puxando um caminhão amarelo para viver intensamente para sentir saudade de uma vida bem vivida, bem chorada e muito amada.

4 comentários:

  1. Ai que saudades... snif,snif. Entre uma fungada e outro, relembro cada minutinho vivido intensamente, e sorrio lembrando dos muuuiitos que ainda temos pra viver. Tem ainda muito banho de banheira, muitas brincadeiras de pular na cama, muita conversa no carro, muita imaginação...
    Obrigada crianças, por este tesouro na nossa vida. Ele ilumina nossa vida, mesmo a distancia.E mesmo com saudades....
    AMOR

    ResponderExcluir
  2. Esse eu demorei pra ler. Quer dizer, fugi dele uns dias. E quando topei, voltei lá no ano 2000. Acho que foi a minha primeira grande saudade.
    Numa certa cama lá em Ibiraquera me desidratei depois de despachar o casal pra Curitiba.
    E agora, melhor nem contar. Haja milhas pra atravessar o oceano várias vezes nestes três anos.
    E haja amor pra segurar essa distância....
    Beijão e que chegue julho logo.

    ResponderExcluir