quinta-feira, 8 de março de 2012

Da (des)educação inglesa

Hoje saímos para nosso café a dois três. Largamos o Lo na escola e fomos rumo a parada de ônibus. Depois de uns 20 minutos esperando já falamos: vai estar lotado, não vai ter onde colocar o carrinho. (nota para quem está chegando agora: por aqui os ônibus tem lugar para carrinho e não tem roleta, facilitando a vida dos pais). Não deu outra. No lugar destinado já tinham dois carrinhos. O cobrador disse para apertarmos no primeiro banco que daria.
E assim foi: eu espremida no primeiro banco com as pernas no corredor pra dar espaço para o carrinho gigante da pequena. Assim que sentei, ela começou a chorar, então peguei ela no colo.
Lá pelas tantas, ônibus lotado, entra um senhor de bengala. Para bem na minha frente e percebo que ele tinha Parkinson! Olho para todo mundo e as pessoas, parecem não perceber e NINGUÉM se da ao trabalho de levantar.
Começa me dar um calor, então calculo como poderia ajudar. Tarefa impossivel, já que precisava colocar Alice gritando no carrinho, levantar, passar por ele, tirar o carrinho no ônibus apinhado de gente e torcer para que ele não caísse. Quando olho pra traz vejo a cena: uma mulher segurando um carrinho na vaga destinada a eles, com o mesmo VAZIO, e sentada, num banco destinado a idosos a filha de uns 4 anos. Não acreditei quando vi. A mulher estava olhando o senhor de bengala, tremendo, imagino que pensando: o que será que ele tem?
Já não bastasse a situação, entra uma mulher com 2 muletas, mal conseguindo se equilibrar e para ao lado do senhor. Olho pra traz na tentativa de que a bonita ficasse com vergonha e tirasse a menina do banco. Nisso, a menina termina de comer e lavanta para entregar a mãe um pacote, ao que a maravilhosa mulher responde: vai, senta, senta logo!!
Juro por Deus, precisei de todos os músculos existentes no meu ser pra não começar a gritar na mesma hora.  Achei que minha cabeça ia explodir, fiquei num vermelhão que deixaria meu pai orgulhoso. (nota: na família temos a expressão PETIPOÁ, termo que meu pai, eu e minha irmã conhecemos bem, que significa aquele vermelhão cheio de bolinhas e manchas que toma conta da cara e do peito naqueles momentos estressantes).
Na mesma hora pensei: ou saio daqui ou começo a gritar com essas pessoas.
Coloco ALice no carrinho, peço licença, sinalizo pro Ber que estava lá no fundo,  vou abrindo caminho no meio da multidão e deixo meu lugar para a mulher das 2 muletas.
Descemos na metade do nosso caminho. Na hora, nem vi onde estávamos, mas eu simplesmente não conseguia ficar ali dentro.
No Brasil, sei que também é difícil de encontrar alguém que ceda o lugar. Difícil, não impossível. Aqui, fora eu e o Bernardo, acho que nunca vi.
Essa educação excessiva dos ingleses, de não se meter na vida de ninguém, é uma beleza, mas também tem dois lados. Eles podem não atropelar ninguém, mas se tem alguém atropelado, eles passam pelo lado e ignoram. (outra nota: alguns anos atrás Norwich teve um acidente de trânsito onde morreram 2 pessoas. A cidade ficou em choque por meses!!!)
Nós brasileiros, intrometidos por natureza, palpitamos na vida dos outros, gostamos de fofoca, e fazemos do Big Brother um dos programas mais vistos da televisão, mas PERCEBEMOS as pessoas. Mesmo que no ônibus não cedam lugar, viram a cara para fingir que não estão vendo, mas estão vendo. Aqui não. Eles olham, mas não enxergam MESMO.
Desci do ônibus tão furiosa, que as pessoas na rua deviam pensar: não entendo nada do que essa louca está falando, mas que o marido está prestes a apanhar, isso está.
O pior, é que assim que descemos e apontei pro Ber a tal mulher ele disse: a nossa vizinha???? kkkkk daí percebi que era uma vizinha nossa que se mudou a pouco tempo aqui pro lado.
Mas como o mundo gira e gira e gira... na volta do passeio, entrei no ônibus com uma outra mulher e seu carrinho. Paramos lado a lado na vaga. Eu, pra ficar de olho na pequena, fiquei entre os carrinhos de costas para ela. Lá pelas tantas, a menina no carrinho, com pouco mais de 1 ano, começa a mexer no meu vestido. Olho pra ver, e a mulher pede desculpas. Digo que tudo bem e sorrio. Um minuto depois, ela levanta um pouco o vestido, e a mulher pede mil desculpas. Não dando por satisfeita, a menina levanta meu vestido e coloca a cabeça embaixo. hahahahha. Viro assustada, e a mulher não sabe se se joga pela janela, se joga a filha, ou se finge desmaio para não passar vergonha. Me olha com uma cara de suplício e pede um trilhão de desculpas. Digo que não tem problema, que eu estava de calça e bla bla bla, mas como boa inglesa ela simplesmente não sabe como lidar com aquela situação tão invasiva.
Pra não matar a mulher do coração, saí do meu lugar e mantive minha retaguarda longe da menina, que devia estar achando muito interessante um "derrière" brasileiro nessa terra de gente quadrada. Em todos os sentidos.

6 comentários:

  1. pois é... às vezes eu entrava com carrinho, mala, em amsterdã ainda íamos pro aeroporto de ônibus, criança e tudo mais e NINGUÉM se abalava, foi uma verdadeira loucura... cada um com seu umbigo... e mesmo assim sem falar holandês ou alemão, por duas vezes cedi meu lugar para crianças menores, ou para idosos que nem sequer me falaram um "danke"... mas tudo bem, minha consciência ficou tranquila...

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  2. eu heinnnnnnnnnnnn, sabe q em portugal iria ser tão diferente q até beira a invasão kkkk

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  3. Ihhhhh, a guriazinha no teu vestido é aquela expressão que o ber inventou...sabe?? Deixou a "fulana" entrar. HA HA HA! Eu que ando bastante de onibus e de trem, vejo com frequencia o pessoal levantar pra idosos e mais ainda para mulheres com nenês no colo. Não é tããooo difícil assim.
    só pra constar: a mãe morreu de rir ontem.. Estávamos falando do casamento, da data, dos valores e adivinha??? Mais pitipoá impossível. E o pai disse que nem tava tanto. ha ha

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    1. eba eba, me conta tudo! quero participar dos detalhes mesmo a distância!

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  4. Nossa Dani, me vi aqui no Canadá! É exatamente assim também! Fico indignada com tanta falta de consideração... Uma vez vi uma mulher caindo aos pedaços de tão tão velha (por baixo uns 95 anos) apoiada na porta do subway, tremendo e ninguem levantou pra dar o lugar pra ela! Eu tava longe, mas fiquei tão indiganada que fiz questão de pegar a senhora e colocar no meu lugar, a senhora me agradeceu tanto, mas tanto que fiquei até sem constrangida. É aquilo: a gente fala que brasileiro é mal educado até ver esse tipo de coisa! Quando pegava o trem para ir pra Unisinos, cansei de ver gente levantar para dar lugar para idosos/grávidas etc... Beijo bem grande pra voces!!!!

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  5. Bah! E eu que tava só falando bem daí! Me caiu os butiá do bolso agora. E se tivesse aí ninguém ia juntar pra mim. Hehehehehe. Melhor voltar prá cá então. Viu?
    Bojos e continua te indignando e registrando de maneira brilhante. Parabéns! Teus textos estão fazendo história.

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