Lorenzo desenhando na Alice
Muita gente me pergunta como funciona o pré-natal por essas bandas, e achei que estava na hora de falar um pouco sobre isso.
Pra começo de conversa, gravidez não é (nem de perto) sinônimo de doença.
A primeira consulta só acontece depois das 10 semanas de gestação. Antes disso eles nem marcam, já que (como sabemos) as chances de perda ainda são grandes, e não há quase nada que se possa fazer a respeito.
A primeira consulta é feita com a midwife que irá te acompanhar durante toda a gravidez. Midwife são "parteiras com formação" já que são obstetrizes, tipo uma enfermeira obstetra, que só trabalha com gestantes. Elas possuem uma longa formação, e são as mais adequadas a cuidarem das grávidas por aqui. Se a gravidez correr sem problema, a gestante nunca vê um médico propriamente dito, já que o parto também é feito por elas.
Nessa consulta, ela preenche toda a papelada: histórico anterior, histórico familiar, e intenções da paciente quanto ao parto e a amamentação, já que amamentar por esses lados é incomun, na primeira consulta, conforme a resposta da paciente, ela já encaminha para um lado ou outro. O parto também é discutido, já que pela NHS (SUS daqui) a mulher pode optar por ter parto em casa.
Eles partem do princípio que hospital é pra doença, e não pra nascimento, e uma mulher com uma gravidez normal, sem riscos, pode parir no conforto do seu lar, com a midwife disponível pra ela DE GRAÇA. A única coisa é ter um ambiente com espaço e limpo para o bebê chegar.
Como tive uma cesárea prévia, elas disseram que o ideal seria ter parto no hospital, mas que se eu quisesse poderia sem problemas ficar em casa. Faremos no hospital.
Recebemos também uma pasta com várias informações a respeito dos meses seguintes, entre elas, uma folha explicando quantas consultas/exames teremos e em quais semanas elas acontecerão.
Uma coisa interessante é: o programa é diferente se for a primeira ou segunda/terceira/quarta/décima gestação. (olha o meu aí)

Eu até agora, com 27 semanas de gravidez, tive só 2 consultas: uma com 10 semanas e outra com 16. Sim, fazem, quase 12 semanas (3 meses) que não tenho consulta. Outra curiosidade: nunca fui examinada pela midwife. Com 16 semanas ela ouviu o coração da nenê, e mediu a pressão, perguntou como eu estava e pronto. Não foram nem 5 minutos de consulta.
Agora vou dizer, to gostando desse esquema.
Se fosse o primeiro filho, provavelmente estaria careca e com gastrite de tanta preocupação, mas agora, vejo realmente que não tem porque ser diferente. Sinto Alice mexer toda hora, estou me sentindo super bem, e o velho "não mexe em quem ta quieto" funciona muito bem nesses casos. Minha próxima consulta será na semana que vem, com 28 semanas, onde, segundo o guia, tenho exame de urina e provavelmente de glicose.
Depois das 28, com 34 , 36, 38... e até o bebê nascer as consultas passam a ser de 2/2 semanas. E olhem só: aqui uma gravidez chega tranquilamente as 42 semanas, ou 40+13 como dizem, e partem para indução, e não para cesárea.
A cesárea aqui, aliás, é um bicho de sete cabeças, TODAS as mulheres morrem de medo de fazer uma. E não existe a tal cesárea eletiva. Simplesmente, a mulher não pode e não quer, chegar pra midwife e dizer: tenho medo do parto, quero uma cesárea. As poucas que conheci que passara pelo procedimento, fizeram de emergência, ou seja, entraram em trabalho de parto e por algum motivo não deu, então partiram pra cesárea. Eu, com uma cesárea anterior, fui marcada para conversar com a obstetra no hospital para ela me convencer a fazer parto natural. A consulta durou 30 segundos, já que quero muito o parto natural.
Outra coisa: o parto aqui, é parto natural. No Brasil, sei que paga-se um absurdo para "tentar" um parto natural, aqui é só chamado de parto. Todas as midwifes desencorajam a peridural, dizendo que não se sabe os reais malefícios para o bebê, e que se sabe que a anestesia pode sim acarretar em mais intervenções para a mulher e bebê. Elas tem disponível gás e oxigênio para usar durante o trabalho de parto, e só aplicam a anestesia se a mulher requisitar e precisar.
Acho todo o processo muito legal. Primeiro porque a mulher é a protagonista da coisa toda, não existe aqui do "médico que fez o parto da fulana" quem faz o parto da fulana é ela mesma. E como tudo aqui, o "se você quiser" é o mais importante. Eles podem indicar, mas nunca, em hipótese alguma vão questionar se você não quiser.
Por isso, o plano de parto é tão importante. Nele a mulher descreve todos os procedimentos que gostaria e não gostaria de passar. Não é um contrato, claro, porque é impossível prever um parto, mas é uma segurança a mais para a criatura que está ali naquela situação um tanto dolorida, não ter que ficar justificando e explicando o porque de querer ou não aquilo. No plano de parto aparecem coisas como: intenção ou não de anestesia, quem vai acompanhar o parto, se quer pegar e amamentar o bebê logo em seguida, se quer esperar o cordão parar de pulsar antes de cortar, se quer ir pra casa o quanto antes, se quer usar bola de parto, chuveiro, banheira e outro ítens.
Ontem eu e o Bernardo fizemos "reunião plano de parto" e conversamos sobre o que eu queria. Escrevemos e vou levar para discutir na semana que vem com minha midwife. Coloquei as coisas mais importantes para mim, mas com a consciência de que as coisas podem não sair como planejei.
Recebi um folha sobre VBAC (vaginal birth after cesarea) e lá dizia que o ideal seria que eu fosse para o hospital assim que entrasse em trabalho de parto, e quem também seria bom monitorar o bebê durante. Mas se eu disser que não quero, que vou ficar em casa o máximo possível e não quero monitoração, tudo bem também. Eles respeitam as decisões, e acreditam que só a mulher/mãe sabem o que é melhor pra ela mesmo.
E esse respeito, pelo processo de cada uma, não tem plano de saúde que pague.